sábado, 28 de abril de 2018

Um clube de xadrez em Iguatu

O CLUBE CAPABLANCA DE XADREZ

Por Pereira Oliveira

Iguatu-CE

O Clube Capablanca de Xadrez nascido de um feliz iniciativa do Dr. Humberto de Gouvêa Soares e Honório Augusto Machado aglomerou por um bom tempo, em Iguatu, no idos de 1960, os aficionados da Arte de Caissa, dando oportunidade a que fizessem bem sucedidas incursões pelo mundo dos trebelhos. Foram membros efetivos do Clube, na época, o médico Dr. Humberto de Gouveia Soares, Honório Augusto Machado, Milton Monteiro Gondim, Assis Pereira, este modesto cronista e outras pessoas cujo nome o tempo apagou em minha desgastada memória. O clube teve vida efêmera. Não deu tempo a difundir o xadrez, como era o firme propósito de seus dirigentes, mas deu bons frutos, formou bons enxadristas.

O estudo do xadrez tornou-se um constante na vida dos membros do clube. Não raro eram vistos debruçados sobre a variada literatura sobre o assunto, ou com um tabuleiro e peças debaixo do braço a procura de parceiros dispostos a um joguinho. Esse estudo era avaliado com frequência, por meio de partidas disputadas em espaço reservado nos clubes sociais, na própria residência dos enxadristas, ou por correspondência.
Ronald Câmara
Visando projetar o clube, seus dirigentes decidiram promover um torneio especial com a participação dos campeões brasileiros José Pinto Paiva, baiano, e Ronald Câmara cearense, e da Tricampeã Feminina Sul-Americana, Ruth Cardoso, baiana, hoje falecida. Para realização do evento o clube contou com o patrocínio do empresário de Orós, Eliseu Batista Rolim, de saudosa memória, que custeou entre outras despesas, as passagens de avião dos convidados, assim como, com a ajuda valiosa da Cia. Industrial de Algodão e Óleos, empresa local que cedeu uma casa de sua vila para hospedagem condigna dos convidados.

O Torneio teve lugar no salão nobre da Biblioteca Municipal, com a presença do Prefeito, o médico Dr. Manoel Carlos de Gouvêa, do Bispo Diocesano, Dom José Mauro Ramalho de Alarcon e Santiago e de outras autoridades de destaque da cidade. Coube ao Dr. Carlos de Gouvêa fazer o lance inicial, avançando o peão em um dos tabuleiros dos pares do certame. A performance dos enxadristas locais, naturalmente, não era lá essas coisas, comparada com a atuação dos visitantes, mas nenhum deles era um “capivara”, um principiante. Todos tinham a qualificação exigida para a participação no memorável confronto.

O desenrolar das partidas transcorreu num clima de franca harmonia esportiva, donde ressaltar o respeito dos enxadristas convidados pelos concorrentes locais que, por sua vez, corresponderam ao gesto de elegância, observando disciplinarmente todas a regras do jogo, inclusive a de deitar o rei e estender cavalheirescamente a mão ao vencedor, ao perceberem que a derrota estava à poucos lances.

Terminado o evento os anfitriões cuidaram de dispensar toda a atenção possível aos convidados a fim de que se sentissem em casa, nessa encantadora porção ribeirinha do velho Jaguaribe. pondo-lhes a par dos costumes e da cultura cearense, até mesmo do espírito irreverente e brincalhão do “Ceará Moleque”.

Desse último detalhe os visitantes tomaram conhecimento por duas vezes, a primeira numa determinada reunião, quando aproveitando o momento de descontração, despachadamente pedi a Dona Ruth, Cardoso, baiana de Salvador que falasse das belezas de sua terra, do Senhor do Bonfim, dos encantos da baiana, dos turbantes de seda, dos balangandãs e saias rodadas, enfim que esclarecesse o enigma que corre mundo e dissesse para os presentes o que é que baiana tem. Boa pessoa, fairplay de carteirinha, ela sorrindo, respondeu: “O que a baiana tem é um segredinho que não conta pra ninguém”. E a segunda, por ocasião do almoço de despedida em minha casa. No momento em que estávamos todos sentados à mesa, antes que fosse servido as iguarias, Benildes Mendonça, esposa do Machado, com delicadeza pois um pires com xerém em frente a Pinto Paiva e disse, perdão, mas essa é a comida de Pinto aqui no Ceará.

O autor: Pereira Oliveira, aposentado do Banco do Brasil, foi gerente da agência de Açu no final dos anos 1960


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